Incongruências

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sexta-feira, outubro 24, 2003

Catarina…


Catarina é um nome de que gosto bastante, parece-se com catraia e por catraia gosto às vezes de tratar pessoas que me são queridas. A Alice quase que era Catarina.

O facto de, quase todas as semanas umas três ou quatro vezes passar à porta do malfadado prédio onde a desgraça aconteceu, também me abala. Deixaram de ser apenas pequenas idas às compras, antes passava por ali e só me interessava em saber se o Leça ia alto ou se já mal se via debaixo da ponte, agora é uma provação...

Se as Comissões de Protecção de Menores exercessem as suas funções da forma restrita que agora muitos advogam instituições como a Casa Pia e a Casa do Gaiato estariam (já estão) a abarrotar de crianças (e os meninos da D.ª Catalina Pestana vivem todos como reis...), teríamos um constante fluxo de ‘noticias’ na TVI sobre os desgraçados dos papás a quem não deixam ver os seus queridos rebentos e o povo aclamaria por alterações ao sistema.

A realidade é que a vida de muitas crianças foi – bem ou mal – decidida nestas comissões e só agora, da forma mais escabrosa, o facto saltou para a ribalta.

O que falhou à Catarina foi o acompanhamento da assistente social. À Catarina e a milhares de outras crianças, que não chegaram a sofrer a um ponto tão extremo mas mesmo assim sofreram e sofrem.

Qualquer um neste país pare um filho e faz dele o que quiser. Ao fim de três ou quatro dias sai-se do hospital e a sociedade (nós) desresponsabiliza-se sobre o bem estar das crianças. Não há qualquer tipo de cruzamento de dados ou acompanhamento, se os pais a quiserem levar ao Centro de Saúde levam, se não quiserem não levam. Podem abandoná-la em casa duma avó que já mal tem capacidade de cuidar de si própria (quanto e quantos casos não há assim), podem entregá-la permanentemente a amas sem formação alguma.

Se a falta do acompanhamento sistemático das condições de vida das crianças (todas!) é uma falha, nos casos mais problemáticos – como o da Catarina – é negligência grave.
Referências
10-11-2003 • Público.pt • Criança que morreu em Ermesinde "nunca deveria ter sido entregue ao pai"